Guerra só na tela - segunda parte
Conforme noticiei na matéria anterior sobre o tema, sigo comentando alguns filmes de guerra, pois, reforçando o exposto no primeiro texto, penso que para se conquistar uma paz duradoura é preciso rever os motivos que nos levaram ao conflito. Nesse sentido, creio que os filmes nos ajudam fazer essa reflexão.
Mário Efegomes Jr
Assim, seguindo a cronologia, chegamos à Primeira Guerra Mundial. Esse conflito teve início em 28.07.1914, com os assassinatos do arquiduque Francisco Ferdinando (herdeiro do império austro-húngaro e primeiro na linha sucessória) e de sua esposa Sofia, ambos covardemente mortos a tiros em Saravejo por um terrorista sérvio pertencente a um grupo extremista. Seu término foi em 11.11.1918, com a vitória dos países aliados da França e a esmagadora derrota da Alemanha, tudo ratificado com a posterior assinatura do Tratado de Versalhes. Desse terrível episódio de nossa história, inicio por “Carlitos nas Trincheiras” (1918), de Charles Chaplin, comédia lançada um pouco antes do término formal do conflito, que narra a história de um soldado que embarca numa arriscada missão com o sonho de se tornar herói. O drama épico “Sem Novidade no Front” (1930), de Lewis Milestone, produção norte-americana vencedora do Oscar de Melhor Filme, narra a saga de um grupo de estudantes alemães que é convencido por um professor ultranacionalista a se alistar no Exército de seu país durante a Primeira Guerra Mundial. Ao testemunharem mortes e mutilações, o idealismo dá lugar aos horrores e tragédias da guerra. No drama “Glória Feita de Sangue” (1957), de Stanley Kubrick, um general francês ordena um ataque suicida contra os alemães que resulta em fracasso e tragédia. Para abafar seu mal feito, o general atribui a culpa a três soldados, aleatoriamente escolhidos, e exige que sejam submetidos à corte marcial com pedido de pena de morte. O épico “Lawrence da Arábia” (1962), de David Lean, é baseado na autobiografia do militar, arqueólogo, diplomata e escritor britânico Thomas Edward Laurence. Em plena Primeira Guerra, o jovem tenente do exército britânico pede transferência para a Península Arábica. Lawrence, admirador confesso do deserto e do estilo de vida dos beduínos (povos nômades que habitam as áreas desertas do Oriente médio e norte da África), oferece ajuda aos árabes para se libertarem dos turcos no conflito conhecido como Revolta Árabe, entre 1916 e 1918. Foi indicado ao Oscar em 10 categorias, recebeu 7 estatuetas, aí incluídas as de Melhor Filme, Diretor e Trilha Sonora. O drama épico “1917” (2019), de Sam Mendes, conta a história de dois soldados britânicos que são incumbidos da penosa missão de atravessar o território inimigo e entregar uma mensagem que pode salvar cerca de 1600 compatriotas de uma emboscada dos alemães. Foi indicado ao Oscar em 10 categorias e recebeu duas estatuetas: Melhor Fotografia e Melhor Mixagem de Som. A produção mais recente é “Nada de Novo no Front” (2022), de Edward Berger. Trata-se de uma refilmagem do clássico de 1930 (acima comentado). Entre outras premiações, venceu o Oscar 2023 de Melhor Filme Internacional, disponível na Netflix.

A Segunda Guerra mundial teve início em 01.09.1939, em vista da invasão da Polônia pela Alemanha nazista, e término em 02.09.1945, dias após os EUA covardemente lançarem bombas atômicas contras as cidades de Hiroshima e Nagasaki (esses infames bombardeios, entre os dias 6 e 9 de agosto de 1945, causaram a morte instantânea de 110 mil seres humanos, quase todos civis). Sobre essa terrível passagem da história, destaco inicialmente “O Grande Ditador” (1940), de Charles Chaplin (foto), comédia dramática em que o genial diretor, roteirista e protagonista satiriza o nazismo, o fascismo e seus maiores propagadores, respectivamente Adolf Hitler e Benito Amilcare Andrea Mussolini, tudo isso roteirizado e filmado em pleno curso da guerra. Faço uma sugestão: se for rever esse clássico, preste atenção ao discurso no final do filme, que é dirigido à nação da “Tomânia” (país fictício que faz alusão à Alemanha, mais uma gozação de Chaplin) e proferido na rádio estatal pelo barbeiro judeu, mas os ouvintes pensam que o locutor é o ditador genocida “Adenóide Hylkel” (explícita referência a Adolf Hitler). Considero esse texto de Chaplin um dos mais belos e libertários da história do cinema. Outro clássico inesquecível é “A um Passo da Eternidade” (1953), de Fred Zinnemman, narra o ataque aéreo da Marinha Imperial do Japão contra a base naval Pearl Harbor (Porto de Pérolas), em Honolulu, no território do Havaí (pertencente aos EUA), que levou à entrada formal dos Estados Unidos no conflito. Aliás, cabe registrar que “Pearl Harbor” (2001), de Michael Bay, é um bonito drama romântico que tem como pano de fundo esse mesmo episódio da história. Outro obrigatório é o drama histórico “A Lista de Schindler” (1993), de Steven Spielberg, que narra a história do empresário alemão Oskar Schindler. Durante a Segunda Guerra, Schindler resgatou cerca de 1.200 judeus alemães da deportação para a morte no campo de concentração de Auschiwtz, na Polônia. Foi indicado ao Oscar em 12 categorias e recebeu 7 estatuetas, inclusive as de Melhor Filme e Diretor. Os filmes de ação “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), e “Indiana Jones e a Última Cruzada” (1989), ambos de Steven Spielberg, são aventuras que também têm o nazismo como pano de fundo. Curiosidade: Em “A Última Cruzada”, numa cena de humor crítico passada na Berlim dos anos 1938, nosso herói “Indiana Jones” recebe, involuntariamente, um autógrafo de Adolf Hitler na caderneta/diário de seu pai “Dr. Henry Jones”. É sempre muito bom ver esse psicopata genocida sendo ridicularizado! Em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), de Steven Spielberg, a ação se inicia numa cena épica que retrata o desembarque das Forças Aliadas, em 06.06.1944, na Normandia (região no litoral norte da França). Esse episódio, também conhecido por Invasão da Normandia ou “Dia D” (Dia da Decisão), marcou o início da vitória das forças aliadas sobre os nazistas. Curiosidade mórbida: Essa fictícia busca pelo soldado “Ryan” é ligeiramente baseada no caso real dos irmãos Alexander, John, George e James Allison, todos os quatro filhos de Agnes Allison, de Port Carbon, na Pensilvânia, que tragicamente entre 1863 e 1864 foram mortos na Guerra Civil Americana. Outro excelente é “A Queda: As Últimas Horas de Hitler” (2004), de Oliver Hirschbiegel, uma bela produção alemã baseada nos depoimentos de Traudl Junge, que foi a última secretária pessoal de Adolf Hitler entre 1942 e 1945, e forneceu muitas informações sobre o final da vida do "Führer". O drama ítalo-luso-brasileiro “Estrada 47” (2013), de Vicente Ferraz, é inspirado na história real da participação dos 25 mil militares da Força Expedicionária Brasileira, a FEB, que foram à Itália auxiliar os Aliados na campanha contra o exército fascista de Benito Mussolini, de 1944 a 1945. Os ditos pracinhas (nome dado aos soldados rasos brasileiros) totalizavam 1.929 combatentes, sendo que 462 morreram em solo italiano. Para quem quiser ver ou rever essa passagem de nossa história, o filme está disponível na HBO Max e Amazon Premium. Recomendo! Outro inspirado em fatos, “Narvik” (2022), de Erik Skjoldjaerg, narra um episódio ocorrido em solo norueguês entre abril e junho de 1940, que ficou conhecido como Batalha de Narvik (pequena cidade situada na margem sul do fiorde Ofoten, tida pelos nazistas como ponto estratégico) e é considerada a primeira derrota, embora por um breve período, do poderoso exército de Hitler. O filme também aborda a delicada questão do colaboracionismo, na figura de uma jovem mãe. O colaboracionismo (palavra que deriva do francês “collaborationniste”) é um termo atribuído a aquele que tende a auxiliar ou cooperar com o inimigo, seja de modo espontâneo ou por meio de intimidação e coerção. Disponível na Netflix! Ainda sobre o tema, considero imperdíveis “A Noviça Rebelde” (1965), de Robert Wise, “Retratos da Vida” (1981), de Claude Lelouch, e “Bastardos Inglórios” (2009), de Quentin Tarantino, filmes que retratam faces dessa tragédia e o quanto absurdas e sem sentido são as guerras.
A Guerra Fria foi um período de tensão geopolítica entre as duas grandes potências de então, ou seja, a extinta União Soviética e os Estados Unidos da América, que disputavam para si a hegemonia da ordem mundial. Teve início em 1947, no pós Segunda Guerra, e teve por consequência a polarização do mundo em dois blocos, em que parte dos países integrava o Bloco Oriental socialista, liderado pela União Soviética, e parte integrava o Bloco Ocidental capitalista, liderado pelos EUA. Seu término foi em 1991, com a dissolução da União Soviética. Sobre esse período, merecem destaque os seguintes filmes: “Dr. Fantástico” (1964), de Stanley Kubrick, genial comédia anárquica em que um general norte-americano paranóico, acreditando que os comunistas estão na iminência de invasão do Ocidente, dá ordens para bombardear a Rússia, sob risco de iniciar uma guerra nuclear. O drama histórico “Treze Dias que Abalaram o Mundo” (2000), de Roger Donaldson, relata o episódio que ficou conhecido como ”a crise dos mísseis de Cuba”, ocorrido em outubro de 1962, quando um avião norte-americano, numa vigilância de rotina, tirou fotos aéreas que revelaram que a União Soviética estava construindo uma plataforma de lançamento de armas nucleares em Cuba. O título remete aos 13 dias em que um grupo liderado por John Fitzgerald Kennedy (35º Presidente do EUA) esteve reunido na Casa Branca discutindo a possibilidade real de uma guerra nuclear e o futuro da humanidade. Dá para acreditar? Por último, relembro a comédia dramática “Adeus, Lênin” (2003), de Wolfgang Becker, que narra a história fictícia de uma mãe, comunista ferrenha na Alemanha Oriental de 1988, que enfarta e entra em coma ao ver seu filho participando de um protesto contra o regime ditatorial. Quando ela acorda um ano depois, o Muro de Berlim foi derrubado. Ocorre que o dedicado filho, enquanto a mãe ainda convalesce na cama, tenta encobrir o ocorrido lançando mão de uma série de divertidas artimanhas, tudo para esconder as profundas transformações ocorridas no país durante o seu coma. O rapaz teme que o choque com a nova realidade seja fatal a sua amada mãe. O filme aborda com humor e sensibilidade o abrupto e complexo processo de reunificação da Alemanha Oriental e Ocidental, iniciado em 09.11.1989, no episódio que passou para a história como “A Queda do Muro de Berlim” e até hoje tem os seus desdobramentos. Recebeu inúmeras premiações, inclusive o Prêmio Goya de Melhor Filme Europeu!
Será publicada oportunamente uma terceira e última coluna sobre o tema (fato inédito desde o início da publicação de meus textos).
Mário Efegomes Jr
Fontes: Portais Google e Wikipédia.