BRASÍLICO
BRASÍLICO
Por Marcio Aurelio Soares(*)
As redes sociais aproximam os distantes e afastam os próximos. Distraem, competem com o espaço formal da educação, e, por isso, seu uso é restrito em sala de aula. Muita informação nos chega de modo instantâneo com um simples toque do dedo, umas tantas sem autenticidade; outras, francamente destrutivas. Mas sabendo lidar com esse “mundo”, podemos tirar grande proveito.
Chegou ao meu “feed” um vídeo postado pelo perfil divdfnx21. Pesquisando, não consegui identifica-lo mais que isso, menos ainda, a sua formação ou área de atuação, mas achei o seu conteúdo interessante e, gostaria de compartilhar com os leitores. Ah, sim...antes de fazê-lo, confirmei a autenticidade de suas informações.
No vocabulário português, as atividades de menor prestígio são denominadas com o sufixo “-eiro ou “-eira”: carpinteiro, cozinheiro, faxineira. Dessa forma, também é usado de forma pejorativa para motoqueiro, funkeiro, violeiro, pagodeiro; ao contrário de atividades consideradas mais nobres como violinista, pianista, saxofonista, todos associados ao universo de orquestra. Para nacionalidade é comum o uso do sufixo “–ano” ou “–ês”: português, francês, americano, chileno. Como algumas exceções para turco, alemão.
Conta-se uma história bonita que os portugueses descobriram nosso território em 1500, por acaso, em seu caminho para as Índias. Uma informação contraditória com os documentos que nos mostram que o Tratado de Tordesilhas em Portugal e Espanha, dividindo o mundo colonizado, foi assinado em 1494. Já sabiam da existência de Pindorama – terra das palmeiras em tupi-guarani e seus povos originários, que passaram a ser chamados de índios ou indígenas. Mas quem nasce na Índia, é indiano e o prefixo “- in”, significa ausência ou negação: infiel, inconfidente, impossível, infeliz. Passaram a tratá-los como se fossem ‘gente sem Deus’ — quase como se ‘indígena’ significasse isso. Ao desumanizá-los, justificavam catequese forçada, massacre e escravização. Se não é gente, não tem alma, escravizar ou exterminar não é um problema. Muitos desses povos que já estavam aqui sabiam cortar e extrair pigmentos do pau-brasil e, sendo ofício, eram chamados de brasileiros, designação de um trabalho realizado por escravizados.
O Brasil foi a quinta colônia de Portugal. Muitos que cometiam delitos eram enviados para cá, os degredados. Não é difícil concluir porque quando se referiam ao nosso território, o chamavam de “quinto dos infernos”.
Somos todos herdeiros da escravidão, quer na pele, quer nas estruturas que ainda organizam nosso país. Aprender uma história real, não romantizada do nosso passado é a forma fácil de compreender o nosso presente.
Que tal brasílico ou brasiliano?
(*) Marcio Aurelio Soares, médico e escritor.