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A esta altura, o governo Lula já recuou da portaria que alterava o escopo da fiscalização da Receita Federal sobre transações financeiras. O recuo acabou “passando recibo” da derrota do governo e da vitória da oposição, coroando mais uma viralização do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes sociais.
Pois abram-se as trincheiras. O quiprocó do Pix esgarçalhou a República. De um lado, perfis alinhados à esquerda se estapearam entre criticar ou defender fervorosamente o governo e até mesmo em acusar, sem provas, de que a Meta teria inflado o alcance do deputado.
Do outro lado, perfis alinhados à direita surfaram na desconfiança contra o governo, em parte, usando como espantalho a taxação das “blusinhas”, e até fizeram subir a hashtag Impeachment no X, de Elon Musk – em mais uma clara demonstração de como os trending topics do antigo Twitter são facilmente capturados por mobilizações de grupos políticos.
Pois bem, considerações à parte, meus 20 centavos não taxados sobre a crise do Pix serão sobre o jornalismo.
Em primeiro lugar, há uma enorme dificuldade por parte do jornalismo em informar a população sobre economia. Em parte, porque é, sim, um tema difícil, complexo. Mas também porque o noticiário econômico, tal qual o político, em muitos casos, acaba refém de jargões e expressões técnicas e parece falar para especialistas.
Essa é uma prática que, felizmente, tem sido combatida com uma tendência a se produzir cada vez mais textos explicativos sobre economia, mas que, infelizmente, chegam numa época na qual o consumo e a credibilidade do jornalismo estão em baixa, e ainda precisam lidar com a concorrência com as redes.
Aí, novamente, o jornalismo declaratório, sobretudo quando reproduz falas de políticos, acaba se tornando mais um problema que solução. Uma das matérias que vi, reproduziu uma fala de Jair Bolsonaro (PL), obviamente falsa, de que mudança na fiscalização seria “uma forma bastante clara” do governo monitorar seus “inimigos”. Chega a ser surreal que Bolsonaro, cujo clã é denunciado por comprar dezenas de imóveis em dinheiro vivo, seja alçado a comentador nesse contexto, sem questionamentos.
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