Dilma Rousseff e a presidência do banco dos BRICS
*Luiz Eduardo Garcia da Silva
A indicação de Dilma Rousseff à presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) pode ser interpretada como uma mudança esperada nos rumos da política externa empreendida por Lula. Dilma substituirá Marcos Troyjo, economista e diplomata, quem teve seu nome nome indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para chefiar a instituição criada em 2014 durante a 6ª Cúpula dos Brics realizada no Brasil e que iniciou suas operações em 2015.
O NDB, também conhecido como o “banco dos BRICS”, tem como sua principal missão realizar investimentos em projetos de infraestrutura e programas de desenvolvimento sustentável nos países que o integram. O Banco conta atualmente com um capital total autorizado em US$ 100 bilhões, sendo sua estrutura acionária dividida em 5 partes igualmente distribuídas entre os membros fundadores[2]. O conselho de governadores, principal instância decisória da instituição, é composto pelos ministros das finanças dos países membros.
O cargo de presidente do banco dos BRICS é rotativo entre os membros fundadores, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que também conta com a participação de Bangladesh e Emirados Árabes Unidos como membros plenos, e Egito e Uruguai que estão no processo de adesão. O mandato brasileiro termina em 2025 quando um novo presidente de outro país será indicado.
Dilma assumirá a presidência do NDB com a missão de promover ainda maior fluxo de crédito para os projetos de infraestrutura no qual o Banco está envolvido. Em que pese sua experiência como Ministra da Casa-Civil, Minas e Energia e presidência da República, sua indicação é um claro aceno político de Lula que visa promover a imagem de Dilma externa e internamente, além de ter uma importante aliada na chefia de uma instituição financeira internacional de peso.
Nas palavras do presidente Lula, Dilma é “...muito competente tecnicamente. Se for presidente do Brics, será uma coisa maravilhosa para o Brics e para o Brasil."[3] Ainda que Lula elucide a competência técnica, a indicação de Dilma à presidência do NDB preenche algumas lacunas estratégicas para o governo Lula e para o Partido dos Trabalhadores:
Primeiramente, a saída de Troyjo, que teceu críticas explícitas a Lula durante a campanha eleitoral de 2022 além de ser próximo a políticos bolsonaristas, facilitará a interlocução do governo brasileiro com o banco dos BRICS. Assim, a troca da chefia pode ser vista como positiva em relação aos rumos da política externa empreendida por Lula.
Em segundo lugar, promove a recuperação da imagem de Dilma, desgastada mesmo entre os quadros do PT, que é vista como uma representante pouco afeita às negociações e acordos políticos. Sua experiência, caso positiva, na chefia do NDB pode-lhe render frutos eleitorais importantes futuramente, caso deseje. Em 2018, Dilma foi derrotada na disputa para o Senado e não concorreu para nenhum cargo eletivo em 2022.
Por fim, não deixa de ser uma espécie de reconhecimento que Lula e o PT conferem aos serviços prestados por Dilma Rousseff enquanto chefe do Executivo. Afinal, trata-se de um cargo com um bom retorno financeiro e determinado prestígio político.
Dilma deve acompanhar a comitiva do presidente Lula em viagem à China no final de março, quando deverá ser oficialmente a representante indicada pelo governo brasileiro à liderança do NDB. A indicação de uma ex-presidente para o cargo de chefia, pode trazer importantes impactos ao órgão que ganhará visibilidade e atenção da mídia ligada ao universo político. O real protagonismo de Dilma, entretanto, dependerá da competência e eficiência da próxima mandatária à frente de um estratégico órgão financeiro.
*Cientista social e economista
*Originalmente publicado em https://www.kas.de/pt/web/brasilien/einzeltitel/-/content/serie-brasilien-im-fokus-2-2023#:~:text=O%20tempo%20dos%20extremismos%20no%20Brasil