Detalhes da cultura covidiana
Por Igor Reis
Quais vão ser os costumes que iremos herdar depois do corona? Com dois anos de pandemia, é bem provável que os hábitos do período serão uma das sequelas da sociedade. Um exemplo é a máscara, algumas pessoas já disseram que vão continuar o uso mesmo depois que tudo isso passar. Será que vamos continuar com os tipos de “ajeitadinha” na máscara, quando não conseguimos falar ou o som sai abafado?
Existe a “ajeitada gentleman”, que começa quando pegamos com a ponta dos dedos, delicadamente, na parte onde fica o nariz e puxamos para cima, e termina com o dedo mindinho levantado. Tem o tipo “não sabe o que quer”, que é quando puxamos para cima e nosso queixo aparece, e quando puxamos para baixo, o nosso nariz que não fica protegido. Existe também o tipo “todos vamos morrer mesmo”, que depois de muitas tentativas a pessoa desiste do modo tradicional e coloca somente a mão na frente da boca enquanto fala, igual jogador de futebol em fim de jogo.
Outro costume que também tem essa proteção envolvida é o de fazer caretas por baixo da máscara! Ou vai dizer que não? A quinta série habita em todo mundo, em uns mais e em outros menos, mas está ali!
Depois que tirarmos as máscaras, muitas amizades poderão se desfazer simplesmente por caras e bocas demonstradas. Pode ser na risada em local não apropriado, nos cochichos que damos para nós mesmos, ou também na cara de ranço ao ver aquele vizinho mala que na pandemia quis ser seu amigo.
Os espirros e tosses já não estão sendo vistos como antes. O dizer “saúde” quando alguém espirra deu lugar aos olhares tortos, esquivas e pensamentos de “qual variante está no corpo desta criatura?”
Já na comunicação, definitivamente a chamada de vídeo não chegou para ficar. Os “delays” são o problema. Em reuniões de trabalho servem como longos minutos para meditação ou, no caso de encontros familiares, servem para que a tia-avó consiga acompanhar o crescimento do sobrinho até a fase adulta somente pela tela.
Os hábitos de cumprimentos provavelmente irão mudar, segundo pesquisa de um Instituto Francês, 78% dos entrevistados abolirão o beijo na bochecha.
Aqui no Brasil, antes da pandemia, ao chegar em um jantar a maioria das pessoas beijava o rosto de cada um dos convidados. Hoje é só um “tchauzinho” junto com um “Boa noite, como vocês estão?”
O álcool 70, líquido e em gel, já virou costume nas mãos dos mais cuidadosos. Apesar disso tudo, às vezes, o cérebro entra em curto-circuito e parece que nunca existiu covid. Tanto que esses dias, a esposa de um "amigo" escreveu uma lista bem simples de mercado para ele comprar. Escreveu exatamente assim: “Traz pão, açúcar e álcool. E ele chegou em casa com pão, açúcar e um whisky. Ouvi dizer que desde então ele higieniza suas compras com Johnnie Walker 12 anos e bebe álcool Zulu.
* Igor Reis é graduado em Jornalismo pela Universidade Paulista de Santos e cronista, de Praia Grande.
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