Crônica da Semana: Inteligência Artificial
Por Marcio Aurelio*
Conheço quem tenha mais facilidade de aprendizagem que outros; pessoas bem a cima da curva. Não chegam a ser considerados gênios, tal como foram Einstein, Beethoven e gente desse naipe. Mas são pessoas que se destacam pela facilidade na criação artística ou no desenvolvimento científico e convivem conosco lado a lado contemporaneamente. Lembro de Milton Nascimento, Chico Buarque; nas artes, um Miguel Nicolelis, ou um Oswaldo Cruz, nas ciências. Anitta? Não. Para. Anitta é profissional de entretenimento, o que faz muito bem, mas está longe de ser artista, menos ainda de ser genial.
Me refiro também a pessoas próximas, de carne e osso. Que convivem conosco no dia-a-dia. Lembrou de alguém? Não vou citar nomes para não ferir suscetibilidades. Vai que a pessoa lendo esta crônica fica na expectativa de se identificar...Deixa quieto.
Continuando, inteligência é a capacidade de aprender, compreender, raciocinar, resolver problemas, tomar decisões e adaptar-se a novas situações. É a habilidade de adquirir e aplicar conhecimento e habilidades para lidar com diferentes desafios e problemas, uma definição bem arrumadinha que acabou de me contar o ChatGPT, um site de IA – Inteligência Artificial, nem inteligente, nem natural...até porque para ser inteligente e genial, temos que ter arte, originalidade, criatividade e pensar excepcional, fora da caixinha, como nós medíocre dizemos. Nos chamar de medíocre, não significa ofensa ou subalternidade. Mas nos qualificar como pessoas que estão na média de inteligência. Que bom!
Na minha adolescência era moda os pais levarem os filhos para fazer teste de inteligência. Qual o propósito disso até hoje não descobri. Talvez preocupação exagerada com a sanidade dos filhos, ou a tentativa de antecipação de um futuro genial para a família. Conheço um caso do indivíduo, que, envergonhado, conta que fez o seu teste e o resultado ficou acima da média. Por um tempo, até ficou convencido que era uma pessoa destacada. Mas com o passar dos anos, tal expectativa não se confirmou. Continuou sendo mediano. Ah, mediano. Melhor que medíocre! Percebi que o leitor ficou um pouco ofendido. É verdade, mesmo com toda a explicação, que me fez gastar quase um parágrafo, também achei medíocre meio forte; não caiu muito bem. Ainda mais me referindo a pessoas intelectualmente sadias, mesmo que sua genialidade posteriormente não tenha sido confirmada, como nós.
Meio tímido, meu amigo me contou que sua história com a inteligência surgiu bem antes do teste da adolescência, logo ao nascer. Diz a lenda familiar, que acompanhavam sua mãe, o pai e o avô. No ato da enfermeira leva-la para conhecimento da família, essa criança abriu os olhos, os dirigindo primeiro para o avô, e depois para o pai. Gênio! Lacrou o avô, com sua sabedoria popular do século passado, nascido em 1901, há muito não mais entre nós. Aliás, ambos já não mais presentes para confirmar essa história. Nem cito a mãe, pois esta não estava presente ao fato, apesar de ter sido uma protagonista fundamental do seu “causo”. Segundo ele, se for por falta de credibilidade pessoal, pode apresentar testemunhas oculares, que confirmarão que a história é verdadeira e ficou conhecida na família. Diziam que as crianças da época nasciam de olhos fechados e só os abririam mês depois! Portanto, que tal fato acontecendo, era prenúncio evidente do nascimento de uma criança de futuro brilhante. Hoje adulto, está convencido, como eu, que somos absolutamente medianos e esforçados. Não sei o que é pior, medíocre ou esforçado. Mas deixa pra lá.
O fato é que, queiramos ou não, com olhos fechados ou teste psicológico, a inteligência está aí para todo mundo, mesmo que seja artificial. Acabou o complexo de inferioridade.
*Marcio Aurelio Soares é médico