A escola é chata
A educação no Brasil passa por uma grave crise, provavelmente a maior de nossa história
por Prof. Marco F
Para muitas escolas não faltariam recursos financeiros se sua gestão fosse profissional e o interesse dos administradores realmente a melhoria do ensino.
A experiência de Sobral, no Ceará, em que cargos administrativos e diretivos são ocupados pelos melhores profissionais da área, e não por paraquedistas, nos mostra que é possível mudar a situação atual e garantir aos jovens o direito fundamental de estudar, único caminho para inserção e ascensão social.
Porém, quando comparamos a realidade atual em muitas escolas, públicas ou privadas, com o que era oferecido em décadas anteriores, percebemos que não houve evolução, atualização ou modernização, pelo contrário os resultados são cada vez piores.
Os professores, sem tempo para cursos e capacitações, e dinheiro para compra de equipamentos, tentam atrair os alunos com suas únicas armas, giz e muita saliva, em uma dura batalha contra aquilo que realmente atrai os jovens, em um mundo com grandes apelos e informações. É uma guerra semelhante a que enfrentam os policiais, combatendo bandidos melhor armados, com armas velhas e ultrapassadas.
Quando completei o colegial, agora ensino médio, nas aulas de Química não podíamos contar com a computação gráfica para enxergar compostos orgânicos em três dimensões. Cabia ao professor nos mostrar suas estruturas através de modelos, com bolinhas de isopor e varetas. Uma simples caixa com átomos para construção de moléculas era importada e aproveitávamos as poucas viagens internacionais de amigos para encomendarmos um kit desses. Não existia e-mail, nem internet, nem pensar em serviços de streaming. Começava a surgir a BITNET, uma rede de comunicação entre as universidades, em que mensagens de texto eram trocadas, lentamente, em tela dividida. Nada de imagens. Pesquisas escolares eram feitas em enciclopédias e nas bibliotecas.
A vida de hoje é muito mais fácil, um simples celular tem muito mais recursos que gigantescos computadores de outrora. Mas as escolas, muitas delas, mantêm a mesma estrutura, regras e estratégias didáticas. Cansados e desmotivados, os professores não usam alguns desses recursos, que os aproximariam dos jovens.
Sou professor há 34 anos e acompanhando as mudanças de hábitos e costumes que modificaram as relações humanas, acredito termos evoluído quando substituímos algumas figuras autoritárias e intocáveis, mas não soubemos manter a necessária autoridade sobre nossos filhos, a eles ensinando direitos e deveres. Oito ou oitenta, o pouco diálogo que existia dentro das famílias foi substituído por medo de contrariar as crianças. Sem referências familiares, o aluno não enxerga seus professores como pessoas que querem lhe ajudar, e não tem motivos para admirá-los e respeitá-los.
É preciso sentir prazer em frequentar a escola!
Mas, salários defasados, excesso de aulas e a "burrocracia " contribuem para o esgotamento físico e mental dos professores, vítimas cada vez mais frequentes de doenças psíquicas.
Outro dia, conversando com um colega, chegamos à conclusão que "seria muito bom se nos deixassem dar aulas".
Como dizia, por trás de uma boa escola, sempre existem direção e coordenação eficientes, que estabeleçam limites para os alunos, valorizem professores e funcionários.
Escola, na sua origem etimológica, era um lugar para se pensar, de descanso do trabalho. Estamos criando jovens que pensam? Ou brincando de ensinar?
* Prof. Marco F é bacharel em Química (IQUSP-SP), professor desde 1987, coach certificado (IBC), radialista e jornalista.
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