Séries Nacionais de TV – A criação de nossas próprias histórias!
Mário Efegomes Jr*
John Logie Baird foi um engenheiro escocês que construiu o primeiro sistema de televisão. Em 1926, diante de uma platéia de 50 cientistas, fez em Londres a primeira transmissão de TV da história. Na década seguinte, mais precisamente em 1939, aconteceu oficialmente a primeira transmissão de TV nos EUA. No Brasil a televisão teve início em 18.09.1950, com a inauguração da TV Tupi, emissora paulista fundada pelo jornalista Assis Chateaubriand, que foi também a pioneira na América do Sul!
Já na primeira década da existência da TV no Brasil começaram a ser exibidas nossas primeiras telenovelas, telejornais e programas de auditório. Esses programas eram realizados, em sua maioria, por profissionais oriundos do rádio, cinema e teatro. Todavia, como a produção nacional não era suficiente para preencher a grade televisiva, a programação era complementada com filmes e seriados de origem preponderantemente norte-americana.
Ainda naquele período surgem as primeiras séries nacionais, tais como “Alô Doçura” (1953-1964), de Cassiano Gabus Mendes, produzida e exibida pela TV Tupi e estrelada por Eva Wilma e John Herbert (foto), que foram casados de 1955 a 1976. Mostrava o cotidiano de um jovem casal com leveza e bom humor. Curiosidade: Essa série foi inspirada em “I Love Lucy” (1951-1957), da CBS Corporation, estrelada pelo casal Lucille Ball e Desi Arnaz, uma das pioneiras e mais aclamadas “sitcoms” da história da TV norte-americana e que foi exibida no Brasil pela TV Tupi entre 1958 e 1979, também com enorme audiência, até hoje é considerada referência mundial do gênero.
Também na década 1950 surgiu o seriado “Capitão 7” (1954-1967), de Alice Maio Miranda, produzido pela TV Record e que posteriormente teve uma versão em revista em quadrinhos. Foi o primeiro super-herói brasileiro, criação de Rubem Biáfora e interpretado por Ayres Campos. Curiosidades: No início o seriado era transmitido ao vivo, só depois de certo tempo passou a ser gravado. O número “7” é uma alusão ao canal que a TV Record era sintonizada em São Paulo. O personagem foi inspirado em super-heróis de HQs norte-americanas tais como Flash Gordon e Capitão Marvel. Shazam!
Ao chegarmos à década de 1960, nossa TV passou a exibir uma infinidade de séries norte-americanas que se tornaram clássicas e fizeram grande sucesso no Brasil e no mundo, tais como “Viagem ao Fundo do Mar” (1964-1968), de Irwin Allen, “A Feiticeira” (1964-1972), de Willian Asher, “Jeannie é um Gênio” (1965-1970), criada e produzida por Sidney Sheldon, “Perdidos no Espaço” (1965-1968), criação de Irwin Allen, “O Túnel do Tempo” (1966), também criada por Irwin Allen, “Batman e Robin” (1966-1968), baseada nas HQ de Bob Kane e Bill Finger, “Terra de Gigantes” (1968-1970), de Harry Harris e Sobey Martin, e “Jornada nas Estrelas” (1966-1969), de Gene Roddenberry. Como são muitas, peço desculpas se porventura me esqueci de citar a sua favorita!
Sucede que àquela altura já tínhamos uma bem estruturada produção de séries nacionais. Destaco “Vigilante Rodoviário” (1961-1967), criada e dirigida por Ary Fernandes, foi produzida por Alfredo Palácios e totalizou 38 episódios. Narra o cotidiano do “Inspetor Carlos”, papel de Carlos Miranda, e de seu cão pastor-alemão “Lobo”, que, a bordo de uma possante Harley-Davidson, patrulham as estradas e vivem muitas aventuras, sempre mantendo a lei e a ordem! Curiosidade: Após o fim da série, o ator Carlos Miranda ingressou na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo. No início como patrulheiro, foi promovido a vários postos e atuou como porta-voz e relações públicas da corporação!
Outra daquele período que merece destaque é “A Família Trapo” (1967-1971), de Manoel Carlos e Nilton Travesso, série humorística exibida pela TV Record que obteve grande repercussão. Criação de Jô Soares e Carlos Alberto de Nóbrega tinha no elenco, entre outros, Ronald Golias, Renata Fronzi, Otelo Zeloni e o próprio Jô Soares. Curiosidade: O título da série foi inspirado na “família Von Trapp”, de “A Noviça Rebelde” (1965), de Robert Wise, musical de enorme sucesso, vencedor de 5 estatuetas, incluindo o Oscar de Melhor Filme!
A década de 1970 nos trouxe novas séries nacionais, tais como “Jerônimo, o Herói do Sertão” (1972-1973), de Dionísio Azevedo e Gonzaga Blota, que foi produzida e exibida pela extinta TV Tupi e protagonizada por Francisco Di Franco, Eva Christian, Canarinho e Ítalo Rossi. Outra de grande sucesso foi “Vila Sésamo“ (1972-1977), de Boni e Cláudio Petraglia, versão brasileira do programa infantil norte-americano “Sesame Street”, a série foi exibida simultaneamente pela Cultura e Globo, estrelada por Sônia Braga, Aracy Balabanian, Laerte Morrone e Armando Bógus. Também merece destaque “Shazam, Xerife & Cia.” (1972-1974), de Adriano Stuart, produzida pela Globo e protagonizada por Paulo José (“Shazam”) e Flávio Migliaccio (“Xerife”), amigos inseparáveis que a bordo de sua camicleta (caminhão-bicicleta) viviam muitas aventuras! Uma espécie de “Carga Pesada” versão infantojuvenil...
A partir do final dos anos 1970 a produção de séries se firmou definitivamente em nossa TV e surgiram sucessos como, em ordem cronológica: “Sítio do Picapau Amarelo” (1977-1986), “Ciranda Cirandinha” (1978), “Malu Mulher” (1979-1980), “O Bem Amado” (1980-1984), “Dona Santa” (1981-1983), “Mário Fofoca” (1983), “Armação Ilimitada” (1985-1988), “Juba & Lula” (1989), “Mundo da Lua” (1991-1992), “Castelo Rá-tim-bum” (1994-1997), “Confissões de Adolescente” (1994-1996), “A Comédia da Vida Privada” (1995-1997), “Cocoricó” (1996-2013), “Sai de Baixo” (1996-2002), “Mulher” (1998-1999), “Sandy e Júnior” (1999-2002), “Santo de Casa” (1999), “A Grande Família” (2001-2014), “Os Normais” (2001-2003), “A Turma do Pererê” (2001), “Cidade dos Homens” (2002-2005), “A Diarista” (2004-2007), “Antonia” (2006), “A Mulher Invisível” (2011), “Tapas & Beijos” (2011-2015), “Divã” (2011), “Doce de Mãe” (2012), “D.P.A. – Detetives do Prédio Azul” (no ar desde 2012), “Pé na Cova” (2013-2016), “Vai Que Cola (no ar desde 2013), “Mister Brau” (2015-2018), “O Dono do Lar” (no ar desde 2019). Enfim, há séries nacionais para todos os gostos! Algumas até hoje reprisadas no Canal Viva!
Sem nenhum demérito às séries estrangeiras (das quais sou fã de carteirinha), creio que os exemplos mencionados são suficientes para mostrar que há décadas as séries nacionais de TV, criadas e realizadas pela nossa gente, são excelentes e nada ficam a dever às produzidas em outros países!
* Mário Efegomes Jr. é natural de Santos, advogado, cinéfilo e aficionado por música.
Fontes: Portais Google e Wikipédia.