Governo de absurdos
por Flávio Viegas Amoreira
E que exemplo o povo brasileiro deu ao romper o cerco do negacionismo doentio contra a máscara, as aglomerações e o as redentoras vacinas! Se vacinamos e mobilizamos um povo aflito foi pela visibilidade dada aos nossos heróicos infectologistas, epidemiologistas e todos os profissionais de saúde incansáveis peitando a truculência desaforada dos obscurantistas.
A chave do medo é o caos e todos os fascismos avançam com a associação do temor com a mentira agora alcunhada ´fake news´ e só a informação cristalina da Ciência é capaz de desconstruir o lado sombrio das redes sociais, valhacouto dos propagadores da farsa criando inimigos ilusórios.
O fantasma do comunismo é a cloroquina de sua ideologia aglutinando seguidores desatentos ‘a realidade da miséria estampada na sopa de ossos em cada esquina.... Desvirtuar o foco, criar teorias conspiratórias bizarras, agredir profissionais da imprensa tão dedicados quanto os da medicina, todas as técnicas dos que só toleram a democracia por falta de oportunidade de dar o golpe almejado nas liberdades consolidadas.
O Prêmio Nobel da Paz ao jornalismo sério e a Conferência do Clima em Glasgow são pontos de inflexão internacional para resistirmos com mais motivação ao circo de horrores brasileiro que espero cesse com as eleições vindouras. O país vive sob stress incessante, cada dia um conflito inventado, cada viagem presidencial um fiasco. Foi preciso o sermão do arcebispo de Aparecida no dia da padroeira: cansados de infâmias busquemos a comunhão “pela pátria amada não pátria armada”.
A discórdia fabricada não pode ser política de Estado, o ódio não pode ser técnica de mobilização. O planeta pede socorro e não podemos ser ilha de insanidade alienada. Na era da inteligência artificial, da biotecnologia e da computação quântica quando a Ciência nos oferece vacinas espetaculares em ano e meio de pandemia o governo do inominável corta 87% de verba para onde? Ciência e tecnologia!
Esse des-governo foi afrontando peça por peça o tripé que sustenta uma civilização: primeiro a Cultura e Arte, depois a Imprensa e por último o Conhecimento que ameaça seu projeto de mistificação .... enquanto jorram verbas para o Centrão, orçamentos secretos para manter apoio no Congresso e remédios sem eficácia, dilapidam universidades, laboratórios de pesquisa e bolsas de estudo. Essa a paga para quem nos salva? Esse o prêmio para quem descobre e cura? Falta de empatia levada ao extremo, desprezo pela razão como método. Nem Kafka ou Ionesco iriam tão longe no absurdo...
* Flávio Viegas Amoreira é escritor, poeta, contista, romancista, dramaturgo e jornalista. Nascido em Santos, em 1965, atua como agitador cultural em São Paulo, Rio de Janeiro e Litoral Paulista, em projetos de discussão de temas ligados a artes de vanguarda, saraus poéticos e oficinas de criação literária. Já lançou 14 livros.
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