Centenário de Leonel Brizola
Recebi do companheiro Newton Rodrigues, da Coordenação do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista, o “Dossiê Memória Política: 100 anos de Leonel Brizola” publicado pela Revista Argumentos, da UNIMONTE.
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/argumentos/index
A edição conta com contribuições de Isaías Moraes (organização), João Pedro Stédille, Beatriz Bissio, Daniel Coronel, Moacir de Freitas Jr, Bernard José Pereira Alves, Fernando Vieira, Graziane Righi e Gustavo Cepolini.
O Portal Raiz Trabalhista reproduz a capa da revista em sua primeira página e compartilhará, dia—adia, seus textos.
Não deixem de acompanhar, curtir, comentar e compartilhar para que esses textos cheguem a mais pessoas, para que estas tenham a oportunidades de conhecer melhor quem foi esse “Herói da Pátria” Leonel de Moura Brizola.
EDITORIAL
Estimadas(os) leitoras(es),
Essa é a primeira edição de 2022. Nesse ano, optamos, de forma inédita no
periódico, por destacar o centenário de dois importantes personagens de nossa atual
história, e que se dedicaram a compreender e superar as contradições da sociedade
brasileira: Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Originários do interior do Rio Grande do Sul e
Minas Gerais, respectivamente, buscaram pensar um Brasil não exclusivamente a partir
dos grandes centros urbanos, como em geral nossas elites intelectuais e políticas, tão
acostumadamente, fazem. Reforma Agrária, campesinato, populações tradicionais e
povos indígenas não fizeram parte de um suposto “Brasil profundo” em suas agendas,
mas de uma sociedade brasileira que, historicamente, é sufocada por uma tacanha elite
nacional. Para nós, uma universidade pública, localizada em uma região historicamente
esquecida por Belo Horizonte, e controlada por elites locais, homenageá-los e trazer à
tona o pensamento e o legado de Brizola e Darcy fazem-se necessários. Abrimos,
portanto, as homenagens com Leonel Brizola (1922-2004).
Desde o início, ao pensarmos na possibilidade de lançar um dossiê sobre o
centenário de Brizola, em outubro de 2020, uma pergunta não parou de nos
acompanhar: se ainda vivo, com a cuia na mão e os lábios pausados na bomba, o que
Brizola estaria pensando sobre esse país, que se esfacela a passos acelerados? Como um
político, que teve em sua agenda a busca por um estado responsável por assegurar
justiça e inclusão social através da escola, saúde, trabalho e habitação, encararia
663.765 brasileiros mortos pela COVID-19? Após enfrentar o golpe de 1964, como ele
veria os tais “filhotes da ditadura” emergirem, novamente, com o golpe de 2016, e
publicamente quebrarem placas públicas, liberarem o uso indiscriminado de armas no
Brasil e desfilarem em motociatas que custam milhões aos cofres públicos, enquanto o
país mergulha, novamente, no mapa da fome e o emprego informal cresce? Como
chegamos até aqui?
Pensando nisso, a Argumentos convidou o jovem e competente pesquisador
Isaías Albertin de Moraes (NEPESC-Unesp) para organizar o dossiê Memória Política: 100
anos de Leonel Brizola. O dossiê, que será apresentado com maior atenção no texto de
abertura escrito pelo próprio Isaías, reúne seis artigos e uma entrevista que,
coletivamente, lançam luz em temas que permearam o pensamento desse estadista
brasileiro. Claro que não esgotam todos, pois, infelizmente, precisam atender os limites
que o periódico tem a oferecer. Portanto, temas como: democracia, educação pública,
reforma agrária, subdesenvolvimento e industrialização compõem esse dossiê. A tarefa,
aqui, coube a Beatriz Bissio, Daniel Coronel, Bernard Alves, Fernando Vieira, Moacir de
Freitas Junior e Graziane Ortiz Righi. Soma-se, a esse dossiê, a entrevista realizada por
Isaías Albertin de Moraes e Gustavo Henrique Cepolini Ferreira com João Pedro Stédile,
ativista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Essa longa e
riquíssima entrevista foi dividida em duas partes, pois não queremos deixar nada de fora
desse material. Nessa edição, publicamos a primeira parte. Nela, Stédile resgata o papel
de Brizola para a luta agrária no Brasil.
Nessa edição, temos, ainda, a seção para artigos abertos e que dialogam com
temáticas condizentes às Ciências Sociais. O primeiro deles é Não existe ciência aplicada
na democracia: algumas considerações a respeito de quem as universidades pensam que
são e foi escrito a oito mãos: Bernardo Curvelano Freire, professor do colegiado de
antropologia da UNIVASF, Campus da São Raimundo Nonato, Cláudio Teófilo Marques,
Salvador Vianna e Raimundo Marques, todos representantes do Território Quilombola
Lagoas, localizado no Piauí. Através das experiências de resistência às invasões de terras
do mesmo Quilombo Lagoas pelas companhias Galvani Mineração e pela SRN
Mineração, o texto radicalmente reflete o conceito de ecologia política através da noção
do comum. No artigo seguinte, De mata à estação ecológica: um estudo sobre Acauã,
Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, Emília Pereira Fernandes da Silva, Flávia Maria
Galizoni e Vico Mendes Pereira Lima analisam as relações entre comunidades rurais e a
Estação Ecológica de Acauã, no Vale do Jequitinhonha-MG, a partir da década de 1970.
Na sequência, o artigo Notas sobre a epistemologia de Marx segundo Lukács,
Althusser e Alfred Schmidt, é escrito por Henrique Cunha Viana. Sua proposta é
apresentar o problema do conhecimento e sua relação com a ontologia na obra de Karl
Marx, a partir das visões dos filósofos marxistas Louis Althusser, György Lukács e Alfred
Schmidt. Por último, mas não menos importante, trazemos o artigo Transformações do
papel do estado no desenvolvimento regional brasileiro, escrito por William E. Nunes
Pereira e Carlos Eduardo Pereira do Nascimento. Pautado em pesquisa bibliográfica, o
artigo analisa, teoricamente, a atuação do estado brasileiro nas políticas de
desenvolvimento regional, a partir da Nova República. Os autores demonstram como a
guerra fiscal, inserida numa conjuntura neoliberal, intensificada nos anos de 1980 e sob
a égide da “voz do desenvolvimento”, acabou acentuando as desigualdades no país.
Já na seção Resenhas, a qual fecha a presente edição, contamos com a resenha
O problema na pobreza: aporofobia e o desafio democrático, de Mirila Greicy
Bittencourt Cunha, sobre o livro Aporofobia, a aversão ao pobre: um desafio para a
democracia, da filósofa Adela Cortina, e publicado em 2020, pela Editora
Contracorrente. Muito além de uma resenha focada em apresentar capítulo por capítulo
do livro, a resenhista, competentemente, lança o conceito de aporofobia para
pensarmos temas tão miseravelmente constantes em nossa sociedade: pobreza, fome
e miséria. Essa é a primeira das duas resenhas de livros da editora Contracorrente que
publicaremos nesse ano.
Boa leitura e que possamos seguir firmes e convictos por um Brasil mais justo,
menos desigual, com livros na mão e comida no prato, como Brizola, tantas vezes,
destacou ao longo de sua vida!
Editor-chefe, Gustavo Dias, e Comissão Editorial